terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Pânico #0

O ar rarefeito causou-me alguma ansiedade, não sabia o que me esperava no topo, "quanto mais tempo terei que aguentar?" , nem acredito como consegui subir todos aqueles degraus, a fina camada de gelo nas barras laterais sarava a feridas dos meus dedos, mesmo através das luvas, desde pequeno que não observava os campos da vizinhança do telhado no depósito de cereais da quinta do meu tio, "vejo que alargaram de novo o canal para a rega", estes tipos não reparam que a infiltração de água no terreno faz com que toda a estrutura cruzada de varas metálicas acabe por oxidar?, cedendo pouco a pouco?. Por cada avanço que dava tinha que obrigatoriamente pausar durante uns instantes, o acidente que sofri no pomar à tempos, deixou-me bastantes mazelas, de recuperação demorada o joelho nunca mais foi o mesmo, e a prótese total a que me submeti restringia-me o movimento, por vezes encostava-me à escadaria a ouvir aquela brisa fria acompanhada do som das folhas transportadas pelo vento, e o ruído da auto-estrada bem longe, "felizmente que este pequeno espaço só meu, ainda não padece da desilusão que é a grande cidade", todo aquele amontoado de betão e vidro, onde ofende o aproximar e vive a desconfiança. Quase que escorreguei, soltou-se-me um dos sapatos mas como já me restava pouco, adquiri nova resistência e agasalhei-me enroscando mais um pouco o meu cachecol de pêlo farto, ao olhar para baixo encontrei um novo significado para a palavra acrofobia, este medo foi encontrado quando por acidente fiquei preso no topo do edifício onde trabalho, é que durante uma pausa para um cigarro acabei por ter que passar uma noite inteira ao relento até que no dia seguinte o segurança de serviço reparasse em mim, mais uma vez deixei o telémovel em cima da secretária, foi estranho ouvir o assobiar de um vento de tal intensidade que parecia querer-me levar para longe daquele telhado...

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