quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

(dedos grossos, um hamster e o frasco de maionese) #2

… suspensa pelo vestido preso ao corrimão de entrada, enquanto olhava através da janela reparou em algo que nem num dos seus sonhos mais profundos teria imaginado, a correria era tal, não pôde compreender como funcionava todo aquele mecanismo, apenas conseguia observar um ou dois hamsters que se moviam rapidamente através de uns corredores por entre séries de garfos cravados no chão, todo o conjunto inclinado não a noventa graus mas a cerca de sessenta no sentido oposto ao da caldeira, cada qual com um cordel de fio ligado que percorria o piso até uma cadeira colocada junto aos degraus para o rés do chão, todas as pontas estavam atadas aos apoios de braços, em cada garfo estavam dispostas o que pareciam ser resmas de papel mas de dimensões reduzidas, quando um dos hamsters se aproximou da janela ela achou-lhes ainda mais piada pois reparou que tinham à cintura um cinto carregado de pontas metálicas de diferentes tipos de abertura, como as utilizadas naquelas canetas antes de aparecerem as de tinta permanente, e cada vez que percorriam aquilo que mais parecia um labirinto até junto do garfo em que trabalhavam em cada um dos percursos tratados individualmente, anotavam qualquer coisa em cada uma das pequenas folhas que colocavam junto às restantes, subitamente toda aquela actividade cessou, como se receassem algo, escapuliram-se todos para uns buracos nas paredes, atenção virada para a cadeira …

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Cerebreia #7

Comprei um guarda-fatos baratusco no aki, após uma leitura rápida da folha de instruções conclui a montagem da estrutura base, prateleiras e laterais colocados e a fase seguinte seria a fixação das duas metades do fundo, deixei-as encostadas à parede enquanto me ajoelhava para tirar alguns pregos do saco que vinha junto ao kit, o vizinho do lado entra em casa irritado com a esposa e bate violentamente com a porta de entrada, o impacto causado obriga a que leve também eu com uma das tábuas na cabeça, foi uma pancada suficientemente grave para que ficasse estendido no chão, de seguida vejo a 2ª em minha direcção sem que me apercebesse a tempo para me poder desviar, dou por mim a ser lambido pela cadela de uma rapariga do andar de baixo, era o que parecia, ao menos o tapete amparou-me a queda, é que não sei como mas apareci deitado e completamente despido no chão de uma sala que não a minha, a reacção quase por imediato foi de me cobrir, puxei a primeira peça de tecido que me passou pela mão, por azar era a que tapava a mesinha da sala coberta de jarras e pequenas figuras de dálmatas em porcelana, reduzi a fragmentos todo aquele arsenal pot-pourri, só se viam pétalas de flores secas perfumadas espalhadas por todo o chão, e a parva da cadela a abocanhar todas as que encontrava, só não compreendia uma coisa, porque estava ela a gritar numa linguagem que não compreendia? Olhei para a televisão e achei ainda mais estranho quando reparei que as legendas estavam todos em cirílico e que afinal era russo que a rapariga estaria a falar, terei sido engolido por algum wormhole e devolvido a um universo paralelo?

CO #1

Não uso isqueiro, acostumei-me à ignição de um vulgar pau de fósforo, as lâminas de cerejeira da caixa que utilizo intensificam e mantêm o aroma original destes meus condiscípulos, anteponho as cigarrilhas a qualquer marca de cigarros, adquiri este apreciar com ligeireza, estes cohiba shots de degustar demorado permitem-me um arrebatar por completo, a um aprazimento tal que me é empeçado o narrar de todo este procedimento, encaminho mais uma baforada enriquecendo este momento até um êxtase previamente estipulado, os meus pulmões acusam-me de uma frequente prescrição, procuro então restringir um pouco o hábito só para que sinta o mesmo estimulo de cada vez que preparo o próximo, contemplo ao limiar cada ocasião que considero especial, e presenteio-me repetidamente como se de uma primeira vez se trata-se, recomponho deste modo a minha dignidade.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Cerebreia #6

Sai uma mulher gorda a correr de dentro do armazém com uns tapetes debaixo dos braços, gritava "meu Deus! meu Deus! atiraram-me paposecos!!!", eram uns sarouks valiosos que roubara das paredes do gabinete administrativo, a porta de cargas e descargas estava atafulhada de lixo até ao telhado, o meu carrinho de golfe todo artilhado com neons amarelos confundia os zangões das colmeias lá perto, aos animalecos só lhes apetecia era montarem-se naquele padrão ofuscante, forçado a sair entrei pela porta de serviço lateral, trespassei a dita e caiu-me um balde de iogurte em cima, acho que lhe misturaram mais qualquer coisa, talvez cola... não me conseguia mover, mas lá consegui remover um pouco daquela mistela dos olhos, eram os tapetes que transportavam os contentores de pão que estariam a funcionar a uma velocidade estonteante... todos os que costumavam estar na linha de montagem não se aguentaram e aguardavam que o tabuleiro com as limonadas lhes fosse entregue.

(dedos grossos, um hamster e o frasco de maionese) #1

Numa casa abandonada de portas e janelas bloqueadas com o socorrer de pregos de 9 polegadas, residia uma mulher que não aparecia na cidade desde Janeiro, estamos no final do ultimo mês de férias de uma rapariga intrépida e sonhadora quanto baste, levara emprestado o chapéu de coco do seu avô, um de aba meio gasta retirado do armário que mal se podia encerrar de tantas recordações comportadas, pied-de-poule em tons de castanho com um forro poá preto, o chilreio dos pássaros pouco evidente legitimado pela hora a que saiu de casa permitiu-lhe alcançar as arestas mais recônditas do seu puro imaginário, recriava cenários de cores e sons à sua medida, e os pássaros celebravam as canções da sua preferência, sabiam-nas todas de cor, permanecia no seu bem-estar utópico, as ervas daninhas transformavam-se em flores de sabonete que fabricavam pequenas bolhas coloridas assim que a humidade transportada pela brisa do oceano âmbar lhes acariciava as pétalas, coitadita, nunca poderia prever tal desenlace, tropeça no segundo degrau enquanto saltitava, e fica pendurada de rosto virado para uma das inúmeras janelas tapadas por rede com vista para a cave, a casa em muito mau estado teria quase todas as tábuas removidas do soalho da entrada, da cadeira de balanço restavam apenas os suportes…

domingo, 28 de dezembro de 2008

(ensaio n.º 2)

Encontrei-a de costas viradas para a porta de entrada, sentada no chão da sala junto à mesa de centro, achei estranho que àquela hora não mudara de roupa, o seu braço estendido tocava a superfície fria do vidro, o telemóvel descaia-lhe da palma da mão, cabisbaixa e de pálpebras hesitantes mal conseguia conter todas as lágrimas que me aguardavam, o pai já estaria internado à uns meses, as probabilidades para um reencontro não coincidiam com o desejo de ambos, assim que reparei que o ultimo contacto seria do hospital, abracei-a e transferi-lhe todo o conforto que me era possível, mesmo que para isso não me sobejasse energia suficiente, em momentos como este só nos valem as pessoas mais queridas...

Cerebreia #5

Não assimilo líquidos desde à 9 dias, estou completamente desidratado, corro para o supermercado e encho um carrinho com todos os pacotes de leite magro disponíveis, despejo-os para dentro de um alguidar enorme enquanto sentado lá dentro, sem que dê por nada a minha cabeça solta-se do resto do corpo para cima de uma cadeira, a acidez da minha pele ajudou na coagulação, formam-se pequenos queijos, os meus fios de cabelo espigados engrossam formando pequenas pinças que se agarram a uns dardos colocados dentro de um saco cheio de caracóis, pratico a pontaria, passa um camião em excesso de velocidade atulhado de restos de embrulhos, os motoristas saem e comem todas as fatias, merda! fica só a cabeça.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Cerebreia #4

Num pequeno WC abro as duas torneiras de um bidé, a lama que sai parece-se com areia movediça, coloco 3 bolas de futebol americano esvaziadas por um prego, um alfinete e uma tesoura respectivamente, tenho 20 palhinhas de faixas amarelas que dobro pelas pontas, disponho-as em intervalos de 2 e 6 centímetros de distância entre si, retiro de um armário o aspirador com inversor que utilizo ligando pequenos tubos flexíveis transparentes a cada uma das palhinhas, observo a passagem dos grãos enquanto estes se transformam em pequenos diamantes, o consequente turbilhão faz com que apareçam rasgos no interior de alguns tubos, por fim o plástico liberta uma espiral de espigões que me deixa paralisado, deixo cair o creme de limpeza cif com sabor a limão e as luvas para o massajar durante o duche.

(ensaio n.º 1)

O seu primoroso descair de ombros, de pescoço a descoberto e seios sonegados pela toalha que lhe cobre apenas parte do torso, de livre vontade caminha em minha direcção e abandona o leito morno e suave toque de seda, a determinado instante apoia-se debruçada, desobrigando um palpitar resiliente e desencaminhando a atenção de todos os elementos existentes naquela sala, desloca-se então subtilmente e liberta um pequeno rasto espelhado que derruba qualquer anteparo que nos afaste, desabitado o meu olhar segue o seu corpo esboçado e depara-se com uns lábios carnudos e rosados que contribuem não apenas um aceitar mas também um dedilhar de conforto e delicadeza, o paladar de língua que percorre a minha e segue enroscando à procura de tudo aquilo que adquire por experimentação coordena o meu estado de deleite, aquele ofegar que parece querer-me dizer algo enquanto aproximo os meus braços do seu corpo quase que a descoberto permite que a diminuta toalha acabe por ceder...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

CO #0

Cada colheita de novos miligramas que me revestem os alvéolos pulmonares trazem-me bastante satisfação, o dessincronizar que imagino assim que me reabasteço de um pouco de monóxido não me impede de continuar e voltar a ligar todo um maço à parte insatisfeita e vazia da minha boca, esta serve apenas um única função, a de contenção temporária de um trago de fumo, o simples deslizar de braço com um cigarro preso entre os dedos até junto aos meus olhos relembra-me que o faço porque o meu corpo ainda o permite, qual enfisema qual quê, esse rumor não passa de uma convulsão retirada de um bloco de notas de um Sr. Doutor qualquer, não me adequo a estas novas regras, como se uma distância de três metros servisse para deter os meus restos de prazer obtidos da nicotina, a perda de voz iminente a que me submeto por cada prego que retiro de um recipiente etiquetado não è controlo para esta perturbadora recorrência, mas é motivo suficiente para retirar uma multitude de certezas das várias conversas de café, desacautelado é o titulo mais indicado para a minha pessoa.

Chávez

O gato da minha irmã nunca aceitava qualquer namorado que fosse, o bicho sentia ciúmes de todos os mamíferos desprovidos de pêlo que ela levava para casa, aprumava-se lambendo o seu e empoleirava-se à porta da cozinha de forma a afiar melhor as suas garras, digamos que era a maneira de se livrar das pequenas imperfeições para poder agradar à minha sister, chamava-se Chávez e já o conheciam no bairro por ter levado uns tipos até às urgências do hospital, é que cada vez que alguém manifestava um pequeno avanço que fosse à mulher, não havia tomatada que sobrevivesse, nem seriam suficientes umas cuecas de aço para resistir à fúria desferida a determinado instante, era quase como uma possessão demoníaca ou algo similar, os tubarões quando abocanham não se afincam tanto como aquele gato se afincava...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Psicose #0

Não continue a ler se é daquelas pessoas a quem a quebra da rotina diária faz confusão, alguém que me explique o porquê de escolher o lavar a loiça após uma refeição, não de seguida mas de cada vez que se poisa um simples talher, prato ou copo no lava loiças, será que estas pessoas pretendem ganhar as olimpíadas da PAM (psicose asseio & motricidade), não existe pó-de-talco suficiente em todas as farmácias desta união europeia que chegue para responder às necessidades de tantas mudanças de luvas de borracha para esta gente, são quase como que aqueles sistemas de limpeza japoneses que recorrem à robótica para uma maior eficiência, têm os sentidos exageradamente aguçados, cada tilintar de porcelana ou vidro, sooosh, lá saem a correr com um ar determinado, dispostos a vencerem esse novo desafio, sempre acompanhados com um fairy debaixo do braço..

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Pânico #0

O ar rarefeito causou-me alguma ansiedade, não sabia o que me esperava no topo, "quanto mais tempo terei que aguentar?" , nem acredito como consegui subir todos aqueles degraus, a fina camada de gelo nas barras laterais sarava a feridas dos meus dedos, mesmo através das luvas, desde pequeno que não observava os campos da vizinhança do telhado no depósito de cereais da quinta do meu tio, "vejo que alargaram de novo o canal para a rega", estes tipos não reparam que a infiltração de água no terreno faz com que toda a estrutura cruzada de varas metálicas acabe por oxidar?, cedendo pouco a pouco?. Por cada avanço que dava tinha que obrigatoriamente pausar durante uns instantes, o acidente que sofri no pomar à tempos, deixou-me bastantes mazelas, de recuperação demorada o joelho nunca mais foi o mesmo, e a prótese total a que me submeti restringia-me o movimento, por vezes encostava-me à escadaria a ouvir aquela brisa fria acompanhada do som das folhas transportadas pelo vento, e o ruído da auto-estrada bem longe, "felizmente que este pequeno espaço só meu, ainda não padece da desilusão que é a grande cidade", todo aquele amontoado de betão e vidro, onde ofende o aproximar e vive a desconfiança. Quase que escorreguei, soltou-se-me um dos sapatos mas como já me restava pouco, adquiri nova resistência e agasalhei-me enroscando mais um pouco o meu cachecol de pêlo farto, ao olhar para baixo encontrei um novo significado para a palavra acrofobia, este medo foi encontrado quando por acidente fiquei preso no topo do edifício onde trabalho, é que durante uma pausa para um cigarro acabei por ter que passar uma noite inteira ao relento até que no dia seguinte o segurança de serviço reparasse em mim, mais uma vez deixei o telémovel em cima da secretária, foi estranho ouvir o assobiar de um vento de tal intensidade que parecia querer-me levar para longe daquele telhado...

Transição

Desafeiçoei-me de certas convicções, aproveito "este" meu universo, observo-me de fora através da percepção dos outros, e vejo-me destituído de um duvidar que não mais reside neste corpo, tal como um gradiente estou cada vez mais perto da sobreposição de todas as cores, são estes livros que me têm ajudado a edificar, não aguardo mais... quero mais...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Que sabor desagradável...

Essa angústia, conspurca-nos as vísceras, ameaça-nos o alcance, conduz-nos à miséria e a um acrescer permissivo, revoga-nos o direito ao Eu, executa-nos de lâmina romba e reduz-nos a um mero e diminuto bago defecado, compromete a exposição de todas as dúvidas e cega-nos até não mais podermos distingir entre a rejeição e o amor...

Contrabando

Levo no carro à socapa uns quilos, depois do assalto ao armazém tive que me ver livre do condutor, foi esse desgraçado que permitiu que os dois agentes no carro de policia estacionado junto ao cruzamento reparassem na mala de trinco partido a oscilar enquanto avançávamos, e a ultrapassagem com vermelho que fez com que um dos tampões das rodas se desprendesse em direcção aos suínos, maldita hora em que optei por retirar a máscara utilizada durante a práctica de tiro ao alvo com o segurança, nunca deveria ter tentado fugir o cobarde, não teria sido necessária toda aquela violência para com ele, não escolho o arrependimento mas se volta-se atrás apenas lhe teria disparado sobre uma das pernas, porra só queríamos distribuir alguns sacos de arroz pelo nosso bairro...

domingo, 21 de dezembro de 2008

Fidel

Estupor, esguichava uma substância incolor para cima da minha Titi, a boneca de porcelana que a minha mãe me ofereceu enquanto pequena, estive de cama com sarampo e afastaram-me de todos os meus amigos, não aguentava sozinha sem que aqueles olhos estivessem virados para mim, o cabrão do fox terrier do meu vizinho gostava de se montar no vestido bordado à mão pela minha avõ que fora adaptado do vestido de casamento da sua mãe, aquele cacete furou o vestido de uma ponta à outra, não conseguia acompanhar o trabalhar do bicho com remendos, insaciável o maldito... raios o partam... quando estava sossegado estava mesmo, mas assim que sniffava os caracóis da boneca, jaaasus...

Neon

O estimulo neon ruby do estabelecimento fez com que me aproximasse do expositor colocado por detrás da montra, "assim que alguém entrar, sigo-o", um gajo barbudo coberto de alto a baixo por uma gabardina apertadinha ao corpo e em todos os sítios errados, auxiliou-me de imediato cedendo passagem enquanto desviava metade das fitas verticais compostas de juntas metálicas que cobriam a entrada, assim que senti as solas dos meus sapatos peganhentas, apoiei-me na primeira estante que encontrei à frente, só para me poder afastar um pouco daquela nojice de chão, nem consigo descrever o que se passava ali, mas o certo é que acabei por derrubar todos os dvd's organizadinhos por categorias, fiquei parado sem saber o que fazer até que a rapariga do balcão de atendimento se dispôs a me ajudar na recolha dos meus vícios, não conseguia deixar de olhar para a tatuagem traçada da Kanagawa oki nami ura que lhe cobria metade do rosto, e para todos os piercings que lhe atravessavam o lábio inferior, por momentos pensei "todo este meu silêncio, estou completamente deslocado, aqui sou eu o freak", se pudesse escapar era o que faria, mas enquanto acomodava a gravata e a ajudava não conseguia deixar de me preocupar com o que pensaria de mim...

Cerebreia #2

Enquanto removo a película aderente de uma frigideira com um corta unhas, arranco dos respectivos vasos todas as plantas de casa pela raiz e passo a agitar cada uma de forma a que salte toda a terra, ato um fio de nylon em torno da base e deixo-as dentro de um alguidar cheio de sumo de laranja por uns momentos, agarro num minidrill e esburaco um tacho velho sem medidas nem nada, pego num pouco de álcool etílico que borrifo em direcção ao bico do fogão a gás que tenho completamente aberto, ato a outra ponta do fio nas pegas do tacho, jogo lá para dentro umas castanhas e tapo-o com a frigideira, agito durante horas... sai lá de dentro o Ricardo Glândio.

As escolhas erradas

A primeira impressão com que fiquei, foi de que havia encostado uma cadeira ou algo parecido no outro lado da porta, de cada vez que lhe gritava "abre! por favor! abre-me a porta, não deixes que termine! não assim!", apercebia-me de que apoiava todo o seu peso para impedir que eu pudesse confronta-la de olhos nos olhos, não pretendia forçar entrada pois achei que seria errado e que apenas se afastaria mais, é que nem sempre procedi desta forma, nunca foi algo que fizesse, deixa-la respirar um pouco, desde sempre que lhe impossibilitei as escolhas certas, o que mais poderia esperar... se ao menos lhe conseguisse fazer esquecer todas as minhas imposições por alguns instantes só para a poder "apertar" e encaminha-la de novo para o nosso quarto, gostaria que assim o fosse, mas quando senti os fotógrafos da policia a tratarem-me como um animal engaiolado, e me obrigaram a deitar no chão enquanto tratavam de me algemar, o quer que fosse aquilo em que acreditava, terminou de uma vez por todas, perdi essa ultima oportunidade para sempre, escapou-se-me por entre os dedos...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cerebreia #1

Três copos sobre um caixote de alumínio, 2 cheios e 1 praticamente vazio, um gatito Chartreux encosta a cauda ao 3º copo e acaba por derrubá-lo, tomem atenção, de que copo estou a falar afinal? Não nos serve esta descrição vaga, e estaremos a olhar para o gato enquanto se movimenta pela direita ou pela esquerda? Parto do princípio que temos 1C 2C e 3V, acho que foi o 1C mas agora pareço estar a imitar os textos disparatados daquele tipo, sabem quem é não sabem? Nem compreendo porque razão continuo a dactilografar (2x), talvez pela mesma razão pela qual você se sente pressionado e brutalizado diariamente e continua a cumprir a mesma rotina, dia após dia após dia, entrei no café e uma rapariga dizia-me que estava a trabalhar à 12 horas de seguida, safa... tenho cá uma sorte dos diabos, com esse tipo de horários alargados claro que um gajo se deixa adormecer e acaba por derrubar todos os tabuleiros de pasteis de nata que lhe aparecem pela frente, esse gajo ainda deve dinheiro pá!!!

Imprudente #2

... alguns rapazes de bolsa a tiracolo aproximava-se de Sebastian, "que idiota, bah ah ah" cumprimentaram-no como se estivessem a abrir a porta de entrada da escola ali perto, a qual costumavam invadir durante o fim de semana revirando tudo o que não estivesse suficientemente enraizado no local, deram-lhe um pontapé no rabo fazendo-o cair quase imediatamente, o bater de bochecha no cimento áspero levara-lhe um bocado da face, enquanto limpava a sua própria urina dos lábios, apoiou-se de novo e desta vez o equilíbrio manteve-se por breves instantes, estaria novamente a olhar para aqueles restos de parede desencaixados. Bem, "mas afinal o que é isto, quem foi o gaaajo que tirou isto?", (quando nos surge aquele instinto de observação das coisas, não nos conseguimos conter mesmo que por um segundo) curvando-se enquanto prendia as suas calças um tanto descaídas ainda por abotoar, e determinado a descobrir o que se passava, olha directamente para dentro do muro, é empurrado e fica desligado momentaneamente, quando consegue recuperar os sentidos apercebe-se de uma dor insuportável no seu olho esquerdo, enquanto gagueja uma sobra de Plymouth que havia escondido por debaixo da língua, sem que compreendesse o que lhe estaria a suceder ...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Men

Resolvi aparecer, "seria suficiente?" perguntei-me a mim mesmo, "estarei em condições de antever os seus novos truques?" Encontrei-a à entrada, "acabei de sair de uma reunião" foi o que me disse, mantendo sempre aquele ar guloso e descontraído, de cigarro descaído entre os dedos e o cotovelo apoiado na pasta de documentos que teria sobre o colo, enquanto continuava sentada num dos degraus alcatifados por debaixo do toldo de entrada do hotel, estava a comentar o romance entre 2 colegas de escritório com um dos empregados do starbucks ali perto, o sacana percorria-lhe a parte de trás do pescoço como se a conhece-se desde sempre, "filho da mãe, toca-lhe mais uma vez e quebro-te esses dentes, seu nojento!", acabei por puxar-lhe o braço ao que deixou cair o cigarro que o maldito porteiro apanhou de imediato, "aproveita essa beata, pois nunca poderás provar mais que o sabor da nicotina junto a essas marcas de bâton presentes no filtro", eu sei o que se passava na ideia de cada um daqueles tipos pois em tempos participei no mesmo jogo, apressado e indisposto de estômago impedi que se desassocia-se de mim utilizando uma desculpa qualquer, contei-lhe como estaria completamente apaixonado e que deveria abdicar do meu estatuto na firma para que pode-se continuar ao lado dela, é o que dá cair num abismo tão subitamente e trepar de seguida ficando quase sem fôlego... riu-se na minha cara e disse-me "estou disposta a usar todas as fotos contra ti, nunca te negarás a fazer o quer que seja, caso contrário os teus filhos saberão tudo sobre as posições que te agradam e toda a dor que partilhámos", perdi toda a minha força com que a segurara e deixei-me cair de joelhos enquanto me virava as costas e entrava novamente para o hotel...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Cerebreia #0

Coloquem os auriculares nas vossas narinas se fazem o favor, descalcem os vossos sapatos e pendurem-nos à entrada, deitem-se no chão e fumem um cigarro... sintam a cinza a deslizar para cima do vosso rosto e tratem de olhar para o vosso lado esquerdo, junto à mesa acomodámos uns sem abrigo, devem trocar as vossas roupas com as deles enquanto dobram o vosso joelho direito, reparem na quantidade de água suja que provêm das sanitas da casa de banho dos nossos colegas da sala do lado, não se preocupem pois esta experiência demorará apenas 27 minutos dando tempo de sobra para que se levantem sem entrarem num estado de hipotermia enquanto os vossos fatos novos absorvem todos esses líquidos transportados, juntem as vossas mãos e façam estalar as articulações dos vossos parceiros...

Especialização Profissional #0

Despacha-te pá, lá porque estás de chinelos não quero que passes todo esse tempo parado enquanto reprimes esses teus receios com saídas do género "ai que conforto, que lindo padrão axadrezado", deixa-me de parte essas merdas idiotas e sobe ao palco, despe os collants da tua querida e veste mas é o fato de treino que te dei, sim tu! ó larilas, que lindo calçado...é confortável? agarra mas é na porcaria dos ténis brancos pá... as mulheres estão à espera, besuntem lá este gajo com margarina...e já te expliquei que nesta ladies night apenas participam professoras de educação fisica...

Inimizade

Estou completamente destruído, o meu coração quase que não bombeia mais sangue, os meus pulmões tratam de manter o funcionamento cada vez que volto a tossir, é como se me reanimassem vezes sem conta, impedem um possível desvanecimento, estou moribundo e desfalecido, desmotivado e preguiçoso ao ponto de não me querer levantar mais desta cama, prefiro permanecer deitado e continuar a sofrer sem que alguém chegue perto de mim, não sei quantas vezes mais conseguirei evitar este termo de existência...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

(Josh + Ann) #1

Josh consternado com a atitude dos tipos da ambulância que transportara a rapariga com quem se identificava desde os seus 14 anos, a mulher que lhe transformaria a vida, diziam-lhe que os espasmos provocariam ferimentos e que seria para o bem da sua parceira que estivesse de pulsos atados, Ann de pupilas desgovernadas teria grande dificuldade em encontrar Josh, mas sentiria todo o apoio para que se mantivesse tranquila através da mão colocada no seu ombro, a preocupação de que chega-se a salvo ao hospital onde poderiam tomar partido de toda a instrumentação tornou-se numa prioridade exigida àquele serviço, seria estranho para alguém como Ann estar aprisionada naquele corpo febril sem que pudesse evitar o desconforto, sentia-se indefesa e isenta de obrigações ao mesmo tempo, seria uma opção a de continuar e lutar para que permanece-se junto à pessoa que lhe recordava tudo o que a vida lhe traria de bom ou então esquecer a doença que a atormentava desde à 2 anos...

Despertar

Acho que te devo impedir que continues com esse desviar, detesto ser derrubado e posto de parte, estou um pouco cansado de tudo isso, vejo-me a reviver apenas os bons momentos das ultimas semanas da minha vida, a reorientar o que parecia resistir a tudo e a todos, sinto-me despido de elogios mas continuo firme e disposto a tentar novamente, estou no entanto magoado e desprovido de amor para te oferecer durante uns próximos instantes, não olho para outras mulheres, não faço o género e a minha dedicação é genuína e intemporal, não foi de todo a minha intenção mas se te ofendi de alguma forma peço-te desculpa, e relembro-te que te ofereço o meu sentir através destas escritas curtas, o difícil têm sido demonstra-lo junto a ti...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Imprudente #1

Sebastian Rawling diverte-se imenso estando sempre disposto a esgotar a paciência de qualquer bom samaritano, após alguns copos no pub local dirige-se a casa, ou ao menos tenta, enquanto arrasta o seu corpo para o outro lado da estrada sem dar atenção a qualquer carro que apareça ao curvar da esquina repara que o muro encostado ao seu prédio teria algo de diferente, para além de uns tags novos que alguns dos brats locais teriam tratado de aplicar, estariam dois tijolos retirados, é óbvio que todo o consumo descontrolado apagou-o quase ao ponto de nem se poder levantar do mesmo banco de sempre num dos cantos de balcão do "Hair Of The Dog". Oliver, o cunhado do dono que após denuncia de um envolvimento rápido com a filha de 17 anos do seu empregador, na mercearia da cidade mais perto fora despedido e agredido tendo ficado com uma falta do seu lóbulo auricular direito, descoordenado e sem pagamento para esse mês, ficou a viver num sótão por cima do bar sem nunca ter oferecido resposta para a razão do seu despedimento a Riley, o dono. Sebastian mais uma vez fora posto na rua amparado pelo seu "amigo" desgovernado, de bexiga cheia procura a sua braguilha como se alguém lhe tivesse vestido as calças ao contrário, apoiou-se de braço estendido e camisa desabotoada na manga, naquele muro esquecendo-se por alguns instantes daquilo que lhe teria despertado alguma curiosidade,......

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Afeiçoamento

Determinado a acariciar-te da forma como apenas eu o sei, sentes-te contagiada pelo entrelaçar dos meus dedos no teu cabelo, como se iniciasse-mos este rodopiar pela primeira vez, como se te indicasse de novo o quanto te amo, e esses teus abraços que nos interligam sem costuras visíveis declaradas, é assim que esta união se mantêm inquebrável, não nos sujeitaremos a qualquer interjeição que nos impeça este continuar...

Saborear

Justiça seja feita, continuo ao abrigo deste salto ocasional, como seria se me ausentasse do meu corpo, se porventura me ocorresse procurar outro mais confortável, com vista para outras vidas, que estivesse de acordo com os meus propósitos, com a minha diversidade, de momento recolhida e abandonada, não obrigatoriamente idêntico ao actual pois estaria a reencontrar-me, gostaria sim de experimentar um novo exterior, aprender novamente todos os movimentos simples para que me pudesse preparar de modo a aperfeiçoa-los durante todos os instantes facultados, quero poder acrescentar a essa reunião o espevitar de um acto dito impraticável e absurdo, quando acontecerá?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Selfless

You had me and I refrained from letting go, to whisper and not having your retributory breath back into my mouth... I wondered speechless without having you to touch and care about, made the same repetitive mistake of permitting you into my life, and I failed miserably to step into the last chance for forgiveness close to your arms...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Desejo um avançar tranquilo

Toda essa tosse, cabelo que te cai e perda de peso... começo a preocupar-me contigo... de tanto escreveres esqueceste-te que por vezes deves encontrar de tudo um pouco e não apenas uma existência não regozijada, para além da luz reflectida nos teus olhos emitida pelo ecrã do teu portátil tenta encontrar outro motivo qualquer para que te sintas realizado e afectado positivamente pelos teus amigos, sei que te indico um percurso adverso e rude nos rostos daqueles que te encaminham para trilhos afastados do teu alcançar ambicionado, mas desde que te mantenhas calmo e desperto ultrapassarás e seguirás o teu caminho facilmente...

Beijo

"pq beijamos de olhos fechados...?"

Porque o beijo é a centésima parte de tudo o resto, e o eliminar de um dos sentidos reforça o despertar de todos os outros, sobretudo o toque ligeiro e todo o jogo pretendido de avanços e recuos ;)

Mágoa

Maldito seja o instante do despertar da razão, importo-me sim senhor! Não julgues que te passo as rédeas! As consequências representam apenas uma ínfima parte do todo... retiro o que disse, a cedência existe, é no entanto sobrevalorizada tal como uma adaptação demorada, espaçada.

Faço questão de enunciar as seguintes disparidades: Despoleto o ódio e o repudio, sou cobarde e destemido, caprichoso e distante, e muito, mas muito vulgar...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Obstar

Conforme ajustamos todas as contrariedades não ultrapassadas, incomodamos aqueles que não superam de forma fácil os esquemas de contornos definitivos, competimos pelo cartaz mais vistoso e pelo estatuto indicado para que nos possibilite o regredir de impulsos primários, enfrentar os receios e o reprimir de impulsos revistos e contestados segundo o ataque seguinte, congregamos com as mãos presas a uma figura despida de pudor e desvendamos o que a cortina oculta num palco atrás do pedestal, acorrentamo-nos a essa imagem de envolvimento errado, de uma falta de presença de senso comum, presunçosos como sempre e entregues a um titulo cómodo e diluido num recipiente improvisado e decalcado por acidente...

sábado, 6 de dezembro de 2008

Contraste

Amor é o plagiar desmedido, é recorrer a todos os críticos, é o filtrar de todos os momentos bem sucedidos, é o amanhecer seguido de um acolhimento causado por um olhar que nos preenche, o delinear gerado pela tomada de ideais, é o toque devolvido e o beijo insuficiente, é o largar para depois sentir…

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

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OMG IZ RLY COLD
?? OMG to je opravdu za studena

Desalento / Consternation

Observo o revés de um pacto amoroso, a juntar ao desregular de todos os sincronismos iniciais, dão inicio passo após passo a um desencontrar de gostos partilhados desde o começo, juntamos um pouco de desconfiança e uma rotina ténue enfadonha e distante, acabam por se magoar e evitam confrontos recorrentes, e juram que podem seguir cada qual o seu novo percurso, ao encontro de nova indiferença e novo desprendimento...

Imagine the setback of a love pact, in addition to the de-synchronization of the initial flare, a couple starts building step by step a mismatch of shared acknowledgments, adding a little bit of mistrust and the obligatory boring routine, faint and dismay, and they end up hurting one another while trying to avoid all further confrontations, next comes the promise that they can begin to wonder into a new journey just to end up discovering someone else's indifference...