segunda-feira, 25 de maio de 2009

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O convite foi-me reservado sem que o soubesse, esteve no próprio dia do espectáculo a aguardar pela minha demora, graças à indisposição de um completo desconhecido pude desfrutar de um ingresso quase que encetado, soube do dia com antecedência mas estive indeciso entre o ir e o ficar de pés fora do teatro, assim que soube da passagem desse elenco maravilhoso pela minha vizinhança fui acumulando um certo entusiasmo, por instantes demovido pelo assalto de um cartaz de SOLD-OUT, de que a plateia estaria ocupada até rebentar pelas costuras, a minha não presença seria tratada como um lapso imperdoável, como se me estivessem a cobrar pelo desenraizar de um velho costume, quando me disseram na bilheteira que seria o ultimo lugar disponível, apoderou-se de mim o concluir de um prensar de lábios que havia iniciado à dias atrás, apresentaram-se-me os filhos da vila e respectivos apetites de uns pelos outros, o cantante sem rumo e a sua noiva endiabrada, o despejar das cinzas pelo derradeiro oportunista que manipulava a todo o custo o futuro de um genro que mais tarde talvez lhe calçasse os sapatos, praguejaram-se e rogaram-se desentendimentos através do olhar fulminante de uma mulher vestida de negro que em tempos conseguira amar incondicionalmente, maltratada e afugentada do seu lar, expedida sem retorno em direcção à penumbra do existir lúgubre do esmorecimento doloroso, gritou o ódio e o rancor que a consumiram por completo, desembainhou as migalhas do seu presente envenenado e contemplou cada lágrima vertida de um outrora sambista orgulhoso, desmaiada sobre as sementes que a adoravam, envolta pelo traje de um falso rei sentado no seu novo trono…

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