Num acto de desespero atinge-me na perna utilizando a porta do carro semiaberta como arma de arremesso, enquanto lhe estico as malhas do sobretudo atiro o meu telemóvel em direcção aos pedais, escapou-se-me a tentativa de dissuasão, obriga-me num estalo a confrontar os motivos pelos quais nos deixámos envolver nesta disputa, insulta-me bafejando todas as pragas possíveis até que alcança a autoestrada, trepa os separadores e move-se intrépida por entre faróis que se despistam entrosados uns nos outros, tropeço mas sigo-a tosco no andar assim que recupero, ergo-me manchando os pulmões ao respirar a poeira levantada no ar, avisto-a histérica enquanto pragueja sofregamente de rosto rorschach, não entendo o que diz mas consigo ler-lhe um “foda-se, deixa-me!” na sua boca, os buzinões orquestrados preparam-nos este duelo premente, atira-me a bolsa aos tomates e sucumbo apoiando-me de mãos estendidas no asfalto, a dor intensa suspende-me a respiração obrigando-me a compensar enquanto faço balão de boca, mantenho-me imóvel tendo que aguentar o seu pulso rígido marcar-me o ombro repetidamente, rasgando-o com o trinco metálico da bracelete do relógio, oferta minha após a morte do seu pai, leia-se a inscrição cliché na parte de trás “crescemos entrelaçados como cerejeiras, crescemos abotoados pelo destino, adornados de doce amor”, faço-me propenso e oiço-a desperto enquanto sacoleja as seguintes palavras “deixei-me desvanecer no significado oco das tuas palavras, afastaste-me da minha irmã, não quero, continuas a mentir, eu sei que sim”, acaba pontapeando-me e eu tento atenuar esta imposição afastando-me para os lados, esgotada e ofegante, derreada de tanto recolher o seu cabelo para trás, observa-me como se lá não estivesse mas repara que descoso o meu bloco de notas de dentro do casaco, desfolho-o e revelo-lhe um talão da loja de lingerie que fica situada a cerca de dois blocos da nossa casa, justifico-me dizendo-lhe o seguinte “por favor, tenta compreender que os meus motivos para te ocultar tudo isto foram apenas o resultado por não ter conseguido reserva a tempo na estância turística, quis combinar com uma das empregadas que fazem a limpeza dos quartos afim de deixar o conjunto disposto sobre a cama, teria gostado imenso que o vestisses para mim”, de imprevisto agarra-me pelos braços abocanha-me a língua e solta-me de seguida, olha para mim, fecha as pálpebras enquanto sorri descontroladamente, tatuado a tinta correctora leio-lhe no olho esquerdo “fail!” e no seguinte “lol :b”.
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