quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Apóstrofe.

Debruço-me sobre o seu diário ornamentado com plástico rígido e costuras de vinil, o corte é rigoroso, exímia lide trançada que percorre ao avesso a já estabelecida renda concebida nos sonhos de quem tanto mimou este cabaz, devo crédito ao artesão que para aqui despejou as mais belas tonalidades laranja, na contracapa sugere a inscrição de tinta desbotada: “O porte descascado de uma laranja permitirá o alcovitar dos meus desgostos”, as páginas tintadas nas orlas distinguem-se facilmente, não marcam os parágrafos, capítulos ou numeram os contos, parte agrupam-se juntando-lhe vários caracteres que perfazem o seguinte: “Nestas estórias não nego a minha insignificância, às possibilidades que prezo não lhes viro a palma da minha mão”, dúzias de espaços vazios e rasgados de aflição, folheio...estudo mas nada encontro, “Daqui não escapa a morte, o meu manifesto considero-o obstruído, simples...muito simples”, este tosco bloco desfaz-se agora nas minhas mãos, mistura-se com a terra aos meus pés, esbate-se enquanto torço os dedos e consigo sentir-lhe o término: “Este mísero corte açoita-me o pescoço, esta secura abranda-me o tique nervoso na jugular”.

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