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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Cerebreia #14

Ordeno o amontoado, trato de catalogar o conteúdo dos bolsos do casaco, passo-lhes os dedos e reagrupo os descartáveis, os talões e tudo o resto que não me faz falta, fica-me preso no polegar um pedaço de pastilha elástica por ali esquecida, amasso-a de encontro ao indicador até se despegar com facilidade, e com um movimento rápido afugento-a para o passeio, enquanto o faço oiço um estrondo por cima da cabeça, olho para o alto e observo o segundo momento do impacto, um andaime suspenso apenas por um dos cabos de aço embate contra as janelas do décimo segundo andar, gritam cá debaixo a avisar-me dos vidros quebrados que viajam a alta velocidade, mesmo que a tempo de fugir sinto dois bocados que me atravessam a carne, o braço apontado ao bolso vê desaparecer a mão para dentro da desordem, deixo de poder estruturar, fico impossibilitado de reagir, fico na duvida, poderei recorrer à outra? Atrevo-me a presenciar o repetir deste ultimo incidente? E aí o que farei?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Cerebreia #13

Enquanto conduzo, o carro guina para fora da estrada, retomo o controlo e puxo-o para a esquerda, vejo à minha frente que para além das duas faixas para sentidos opostos, como gavetas que se abrem, novos tapetes de alcatrão não suportados por pilares surgem no horizonte, arqueados pelo peso também estes se abrem, ficam ao todo seis possíveis faixas de rodagem, desniveladas no entanto, reparo que de dez em dez metros saem uns tubos que vertem avelãs sobre a superfície, todos os carros começam a patinar descontroladamente, nem acredito como consegui escapar ileso, parei entre as duas faixas do meio, perdi a conta ao numero de colisões, e tal como sempre faço, tratei de fotografar tudo o que pude, mais tarde voltei a casa, fechei-me na cave para poder revelar as fotos, falhei todo o processo por algumas vezes, assim que olhei para a primeira foto tive que me baixar rapidamente, passa-me por cima da cabeça um resto da grelha frontal de um cadillac cts, rastejei para fora da sala, depois de um estrondo enorme volto a abrir a porta e fico espantado, todos os fragmentos metálicos dos automóveis envolvidos no acidente preencheram de alto a baixo o meu pequeno laboratório.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Cerebreia #12

O amontoado de caixas de cartão forma uma torre até ao tecto, o meu corpo separa-se por secções, os braços fecham a porta da sala e os trincos, as pernas correm para fechar todas as janelas, para tal basta-lhes pontapear a parede, o torso desfaz-se em mil bocados, trepam e trepam, e preenchem o conteúdo de todas as caixas empilhadas, a cabeça colocada sobre o soalho, esquecida lança um sopro sobre a pilha, mas não a consegue derrubar, faz sim com que cada pequeno recipiente se organize no tecto, forma-se então uma matriz de nove por nove, cada caixa com a abertura virada para baixo, os olhos detectam uma anomalia durante o posicionamento e aguardam desesperadamente, após alguns segundos todos os pedaços se libertam do seu encaixe, caem para o chão e deslizam em direcção à cabeça, por momentos receei um aproximar de todas as memórias rejeitadas.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Cerebreia #11

Saltei e todos os ladrilhos saltaram comigo, posicionaram-se todos em meu redor dispostos perpendicularmente ao soalho agora a descoberto, escorria-lhes um liquido amarelo à superfície, a sala ficou cheia até ao tecto, a água entrava pelas condutas de ar, a sola dos meus sapatos descolou-se enquanto humedecida, e o meu corpo absorveu o liquido libertado pelos ladrilhos através dos meus pés, a toxicidade fez com que suasse imenso, o toque salgado misturado com o conteúdo do agora tanque a transbordar provocou uma efeito reverberante nas paredes da sala, deu-se uma implosão e todos os ladrilhos se colaram ao meu corpo, a pele separou-se acabando por se fundir e fiquei totalmente imobilizado, as minhas articulações enrijeceram e os meus olhos completamente bloqueados sem que os pudesse abrir, senti que a pressão no meu corpo se extinguia pouco a pouco, estranho foi ouvir os comentários de todas as pessoas que passavam por ali, por momentos fiquei a pensar que me havia transformado num manequim e estaria colocado na montra de uma loja num centro comercial…

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Cerebreia #10

O padrão hipnótico rectangular do meu sofá aconselhou-me a um mergulho de chapa, enquanto trespassava a superfície todos os pêlos ficaram retidos pelos duendes fardados de enfermeiras estilo Betty Page [+], colocavam toda a pelugem em sacos de cânhamo para que mais tarde fossem utilizados na produção limitada de cabeleiras postiças para os rabos dos póneis dos seus pais adoptivos, no outro lado o meu corpo afundou-se numa pequena lagoa cheia de mel com limão aquecido, toda a minha hipoderme despediu-se da massa muscular ecapulindo através dos meus poros e transformou-se numa bola de basketball gordurosa, apareceram os Harlem GlobeTrotters [+] e espantaram-me com todos os truques que alguma vez poderia imaginar, assim que os Milli Vanilli destaparam o ralo no fundo, fui pelo cano abaixo, desci rapidamente, a gelatina azul cyan forrada com marshmallows aplicada no interior ajudou bastante no deslizar, fui parar dentro de um aquário, e um peixe Ryukin de véu de cartola e monóculo revistido a cobre que lá habitava apresentou-me o homem de escafandro que costumava estar presente como figurante durante as filmagens do Cecil B. DeMented [1, 2] , era fã devoto do John Waters [+].

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Cerebreia #8

Senti as pernas frias, quando olhei não estavam lá, ficaram presas nos dois degraus atrás de mim, de um momento para o outro a escadaria transformou-se numa rampa e deslizei para dentro de um forno, também esse estaria coberto de gelo no seu interior, retirei da minha mochila donald duck os itens necessários para uma escalada e passei alguns instantes a tentar perceber como poderia sair lá de dentro, fui resgatado por uma açorda, não pelas fatias de pão embebidas mas pelos dois ovos escalfados, acompanharam-me até ao circo para me enfiarem num canhão, fui lançado em direcção a um cardume de barracudas, dançámos a noite toda ao som do “D.A.N.C.E.” dos Justice, uau!!!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Cerebreia #7

Comprei um guarda-fatos baratusco no aki, após uma leitura rápida da folha de instruções conclui a montagem da estrutura base, prateleiras e laterais colocados e a fase seguinte seria a fixação das duas metades do fundo, deixei-as encostadas à parede enquanto me ajoelhava para tirar alguns pregos do saco que vinha junto ao kit, o vizinho do lado entra em casa irritado com a esposa e bate violentamente com a porta de entrada, o impacto causado obriga a que leve também eu com uma das tábuas na cabeça, foi uma pancada suficientemente grave para que ficasse estendido no chão, de seguida vejo a 2ª em minha direcção sem que me apercebesse a tempo para me poder desviar, dou por mim a ser lambido pela cadela de uma rapariga do andar de baixo, era o que parecia, ao menos o tapete amparou-me a queda, é que não sei como mas apareci deitado e completamente despido no chão de uma sala que não a minha, a reacção quase por imediato foi de me cobrir, puxei a primeira peça de tecido que me passou pela mão, por azar era a que tapava a mesinha da sala coberta de jarras e pequenas figuras de dálmatas em porcelana, reduzi a fragmentos todo aquele arsenal pot-pourri, só se viam pétalas de flores secas perfumadas espalhadas por todo o chão, e a parva da cadela a abocanhar todas as que encontrava, só não compreendia uma coisa, porque estava ela a gritar numa linguagem que não compreendia? Olhei para a televisão e achei ainda mais estranho quando reparei que as legendas estavam todos em cirílico e que afinal era russo que a rapariga estaria a falar, terei sido engolido por algum wormhole e devolvido a um universo paralelo?

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Cerebreia #6

Sai uma mulher gorda a correr de dentro do armazém com uns tapetes debaixo dos braços, gritava "meu Deus! meu Deus! atiraram-me paposecos!!!", eram uns sarouks valiosos que roubara das paredes do gabinete administrativo, a porta de cargas e descargas estava atafulhada de lixo até ao telhado, o meu carrinho de golfe todo artilhado com neons amarelos confundia os zangões das colmeias lá perto, aos animalecos só lhes apetecia era montarem-se naquele padrão ofuscante, forçado a sair entrei pela porta de serviço lateral, trespassei a dita e caiu-me um balde de iogurte em cima, acho que lhe misturaram mais qualquer coisa, talvez cola... não me conseguia mover, mas lá consegui remover um pouco daquela mistela dos olhos, eram os tapetes que transportavam os contentores de pão que estariam a funcionar a uma velocidade estonteante... todos os que costumavam estar na linha de montagem não se aguentaram e aguardavam que o tabuleiro com as limonadas lhes fosse entregue.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Cerebreia #5

Não assimilo líquidos desde à 9 dias, estou completamente desidratado, corro para o supermercado e encho um carrinho com todos os pacotes de leite magro disponíveis, despejo-os para dentro de um alguidar enorme enquanto sentado lá dentro, sem que dê por nada a minha cabeça solta-se do resto do corpo para cima de uma cadeira, a acidez da minha pele ajudou na coagulação, formam-se pequenos queijos, os meus fios de cabelo espigados engrossam formando pequenas pinças que se agarram a uns dardos colocados dentro de um saco cheio de caracóis, pratico a pontaria, passa um camião em excesso de velocidade atulhado de restos de embrulhos, os motoristas saem e comem todas as fatias, merda! fica só a cabeça.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Cerebreia #4

Num pequeno WC abro as duas torneiras de um bidé, a lama que sai parece-se com areia movediça, coloco 3 bolas de futebol americano esvaziadas por um prego, um alfinete e uma tesoura respectivamente, tenho 20 palhinhas de faixas amarelas que dobro pelas pontas, disponho-as em intervalos de 2 e 6 centímetros de distância entre si, retiro de um armário o aspirador com inversor que utilizo ligando pequenos tubos flexíveis transparentes a cada uma das palhinhas, observo a passagem dos grãos enquanto estes se transformam em pequenos diamantes, o consequente turbilhão faz com que apareçam rasgos no interior de alguns tubos, por fim o plástico liberta uma espiral de espigões que me deixa paralisado, deixo cair o creme de limpeza cif com sabor a limão e as luvas para o massajar durante o duche.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Cerebreia #2

Enquanto removo a película aderente de uma frigideira com um corta unhas, arranco dos respectivos vasos todas as plantas de casa pela raiz e passo a agitar cada uma de forma a que salte toda a terra, ato um fio de nylon em torno da base e deixo-as dentro de um alguidar cheio de sumo de laranja por uns momentos, agarro num minidrill e esburaco um tacho velho sem medidas nem nada, pego num pouco de álcool etílico que borrifo em direcção ao bico do fogão a gás que tenho completamente aberto, ato a outra ponta do fio nas pegas do tacho, jogo lá para dentro umas castanhas e tapo-o com a frigideira, agito durante horas... sai lá de dentro o Ricardo Glândio.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cerebreia #1

Três copos sobre um caixote de alumínio, 2 cheios e 1 praticamente vazio, um gatito Chartreux encosta a cauda ao 3º copo e acaba por derrubá-lo, tomem atenção, de que copo estou a falar afinal? Não nos serve esta descrição vaga, e estaremos a olhar para o gato enquanto se movimenta pela direita ou pela esquerda? Parto do princípio que temos 1C 2C e 3V, acho que foi o 1C mas agora pareço estar a imitar os textos disparatados daquele tipo, sabem quem é não sabem? Nem compreendo porque razão continuo a dactilografar (2x), talvez pela mesma razão pela qual você se sente pressionado e brutalizado diariamente e continua a cumprir a mesma rotina, dia após dia após dia, entrei no café e uma rapariga dizia-me que estava a trabalhar à 12 horas de seguida, safa... tenho cá uma sorte dos diabos, com esse tipo de horários alargados claro que um gajo se deixa adormecer e acaba por derrubar todos os tabuleiros de pasteis de nata que lhe aparecem pela frente, esse gajo ainda deve dinheiro pá!!!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Cerebreia #0

Coloquem os auriculares nas vossas narinas se fazem o favor, descalcem os vossos sapatos e pendurem-nos à entrada, deitem-se no chão e fumem um cigarro... sintam a cinza a deslizar para cima do vosso rosto e tratem de olhar para o vosso lado esquerdo, junto à mesa acomodámos uns sem abrigo, devem trocar as vossas roupas com as deles enquanto dobram o vosso joelho direito, reparem na quantidade de água suja que provêm das sanitas da casa de banho dos nossos colegas da sala do lado, não se preocupem pois esta experiência demorará apenas 27 minutos dando tempo de sobra para que se levantem sem entrarem num estado de hipotermia enquanto os vossos fatos novos absorvem todos esses líquidos transportados, juntem as vossas mãos e façam estalar as articulações dos vossos parceiros...