quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Saliências

Mudámo-nos à pouco, juntos desencadeamos esta espécie de cerimónia, em casa compete-me a arrumação dos livros, aparafusar as prateleiras que servirão como albergue para os estojos de aguarelas, trinchas, bisnagas de óleo e as telas que ficarão encostadas à parede ( impedidas de se estatelarem no pavimento graças a uma rede de tiras de plástico encontrada num estabelecimento de venda a retalho ), a continuação da pintura dos quartos fica para mais tarde segundo a minha esposa, os lençóis que cobrem parte da mobília agora salpicados foram-nos oferecidos, “que compostura desagradável” diríamos, acabaram por finalmente servir um propósito... rimo-nos imenso.

- Oiço-os divertirem-se até às tantas e isso estrangula-me a paciência, ela desconhece de todo os laços apetitosos sustentados pelo seu tombar embaraçoso, esbarrou-se em mim o incauto, de bochechas rosáceas suplicou misericórdia inúmeras vezes até que conseguiu que cessasse o meu direito à reclamação, da noite escorre o dia e trocámos dores e vivências, entregou-me uma infinidade de segredos e acompanhou-me através do meu blog, fluía fogo e permiti-lhe acesso ao meu livro de recordações.

Julguei tê-la junto do coração mas quis libertar-se destas minhas amarras, acredito que ao sentir-se alarmada pela curiosidade acrescida, o desespero e expectativas desobedecidas a fizessem desacreditar na sua própria honestidade, virou-me as costas tal como aos seus comentadores, todos lhe suplicavam o retorno, fingiam o quanto a amavam, mas esse amor sei que o guardava apenas para mim.

- Merda…existo unicamente na minha cabeça, despeço-me desta disfunção desdobrável, reiterei-me acabando por desfazer as brincadeiras, enganei-me na redoma e “asneirei-me” contra as paredes, permuto os gostos e vontades, apresentar-me-ei esquiva às revisões… louca mas isenta.

Finalmente encontrei-a, aparentava-se distinta, mas durante todo este período eduquei-me observando mazelas esquecidas conseguindo-lhe encontrar os atilhos e as sobras desbotadas pela premissa agora praticada, custa-me tanto…mas tento compreende-la, pois é ao que se acostumou, a escarificação da alma não é pêra doce.

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